A rentabilidade dos bancos sofreu uma queda de 6% no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2022, de acordo com o Relatório de Estabilidade Financeira do Banco Central divulgado hoje (9). O lucro líquido do sistema nos últimos 12 meses, encerrados em junho, totalizou R$ 134,4 bilhões. Apesar dessa redução, o Banco Central assegura que o sistema bancário permanece rentável e com perspectivas positivas nos próximos meses.
O declínio na rentabilidade é atribuído ao aumento das despesas com provisões (reserva para riscos de crédito), despesas de captação (custo do crédito), e custos administrativos, conforme explicado pelo Banco Central. A instituição aponta para uma perspectiva mais otimista nos trimestres seguintes, devido à melhoria na qualidade das novas concessões e à redução das estimativas de perdas nas carteiras de crédito, o que deve resultar em menores pressões relacionadas às provisões.
Além disso, o ciclo gradual de flexibilização monetária, com a queda das taxas de juros básicos, é visto como favorável, já que reduzirá as despesas de captação dos bancos. Simultaneamente, o estoque de crédito continuará a apresentar uma proporção significativa de concessões recentes a taxas mais elevadas. Isso tende a impulsionar a demanda por crédito e outros serviços bancários, além de reduzir a pressão sobre a capacidade de pagamento de famílias e empresas, como destacou o Banco Central.
No que diz respeito à taxa média de juros das concessões de crédito, em setembro, pelo quarto mês consecutivo, houve uma diminuição, refletindo a desaceleração em 12 meses. Esse comportamento ocorre em um contexto em que a taxa básica de juros da economia, a Selic, tem sido reduzida e deve continuar caindo até o final do ano. A expectativa é que a Selic chegue a 11,75%, o que tem contribuído para uma redução na taxa de captação dos bancos.
Entretanto, uma questão que requer atenção é a discussão sobre o limite de juros cobrados na modalidade de cartão de crédito rotativo. Essa modalidade é conhecida por suas altas taxas de juros e, recentemente, uma lei foi sancionada para limitar essas taxas. As empresas emissoras de cartões têm 90 dias para apresentar uma proposta de regulamentação com um teto para os juros, caso contrário, essas taxas não poderão ser superiores ao valor original da dívida. Isso significa que os juros de cartão de crédito, que atualmente ultrapassam os 400% ao ano, seriam limitados a 100%.
O presidente do Banco Central, Roberto Campo Neto, destacou a necessidade de todos cederem para reduzir as taxas de juros do cartão de crédito, uma vez que o aumento na carteira de crédito está associado a uma inadimplência crescente e taxas de juros elevadas. No entanto, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) já se manifestou contra esse limite, alegando que isso poderia inviabilizar os cartões e reduzir a oferta de crédito.
Em relação à desaceleração do crédito, o mercado de capitais continuou a crescer no primeiro semestre, apesar da desaceleração observada nos três primeiros meses do ano, em parte devido à crise enfrentada pelas Lojas Americanas, que estão em recuperação judicial desde janeiro. Isso resultou em um aumento das provisões e outras despesas.
O Banco Central ressalta que não há riscos significativos para a estabilidade financeira, pois o Sistema Financeiro Nacional permanece com capitalização e liquidez adequadas, além de provisões suficientes para perdas esperadas. Testes de estresse realizados pelo Banco Central demonstram a robustez do sistema bancário, mesmo em cenários adversos, garantindo a confiança na saúde financeira das instituições financeiras.